Trabalho Científico - Hospital Universitário Alzira Velano.

Boletim SBN - Dezembro de 2004

Otacílio Moreira Guimarães - Presidente da Fundação Pense Bem

Todos podem ter uma vida saudável, sem se machucar ou adoecer, desde que pensem bem e aprendam a proteger o próprio corpo. Essa é a filosofia da Fundação Pense Bem, lançada para a comunidade de neuro-cirurgiões no último Congresso da SBN em Goiânia. Contando com a SBN como sua principal mantenedora, a Fundação Pense Bem nasce com a missão de aproximar a SBN da sociedade civil e educar para a pre-venção. À frente da Fundação, o Dr. Otacílio Moreira Guimarães, de Varginha, MG, fala da importância do projeto e dos planos de atuação.

Qual a missão da Fundação Pense Bem?
A Fundação é uma entidade da SBN que tem como missão contribuir para o desenvolvi-mento das neurociências na sociedade brasileira, atuando mais especificamente na prevenção de traumas, doenças neurológicas e suas conseqüências. Para realizar sua missão, a Fundação pretende promover, coordenar e executar ações e projetos de cunho cultural e educacional, tais como campanhas publicitárias, cursos, pesquisas e apoio à instituições e profissionais que trabalham pelos mesmo objetivos.

Como surgiu a idéia de criar a Fundação Pense Bem?
O modelo da Fundação é baseado no da Fundação Think First, que pertence à Sociedade Americana de Neurocirurgiões. Trouxemos a idéia para o Brasil com algumas modificações, inclusive no nome. O embrião, no entanto, foi a Comissão de Prevenção da SBN, onde atuo e tive a oportunidade de trabalhar com a comunidade de neurocirurgiões. Optamos pela criação de uma Fundação pela flexibilidade que tem uma entidade desse tipo de estabele-cer parcerias com outras fundações e instituições afins, o próprio governo e empresas pri-vadas, para implementar projetos e gerar recursos. A Pense Bem irá atuar de forma inte-grada com a SBN e assim permitir sua maior aproximação com a sociedade nas questões de saúde.

A sociedade se preocupa com a prevenção de doenças?
Na verdade, todo ser humano tem dentro de si a noção da prevenção. No entanto, a prevenção está intimamente ligada ao grau de consciência do indivíduo. Quanto mais se amplia o grau de consciência, maiores chances a pessoa tem de antever os fatos e neles interferir para obter melhores resultados. De acordo com a etimologia da palavra, prevenir significa ver aquilo que está por vir. Na medida que percebemos o que pode acontecer, atuamos de forma positiva para que os resultados não gerem transtornos ou sofrimentos, tanto para nós como indivíduos, como para a nossa comunidade. A prevenção de doenças em geral, não somente as neurológicas, aumenta a qualidade e a duração da vida.

Como ampliar a percepção da necessidade de prevenção de doenças?
Como nem todas as pessoas tem grau de consciência suficiente para entender que determinada atitude pode gerar sofrimento, aqueles que têm maior grau de consciência, tem que ajudar os que não têm a desenvolver esse entendimento. Uma vez adquirida a consciência, as coisas caminham mais facilmente e naturalmente. Vamos tomar como exemplo um episódio da história da Medicina, o da vacina contra a varíola. Naquela ocasião, o Dr. Oswaldo Cruz teve que usar de violência para fazer as pessoas tomarem a vacina. A população brasileira, naquela época, não tinha o entendimento da necessidade da prevenção através da vacina. Ele, como médico e pesquisador, tinha esse grau de consciência ampliado. Mas à medida que o grau de consciência aumentou na sociedade, as próprias pessoas passaram a reconhecer a necessidade da vacina e optar pela prevenção espontaneamente. Cabe a nós, como detentores desse grau de consciência ampliado e formadores e opinião que somos, atuar para que a sociedade brasileira aprenda a evitar neurotraumas, acidentes vasculares cerebrais (AVC) e outras doenças neurológicas que causam tanto sofrimento às famílias.

Qual a principal causa das doenças neurológicas?
50% dos neurotraumas, por exemplo, são causados por acidentes de trânsito. Os mais atingidos são pedestres, ciclistas, idosos e crianças. A faixa etária mais atingida é de 15 a 25 anos. Hoje, de acordo com a OMS, os gastos com complicações resultantes de neurotraumas, representam nos paises em desenvolvimento cerca de 60 bilhões de dólares por ano, ou 2,5% do PIB . O tratamento pode levar de 5 a 10 anos. Uma projeção da OMS assinala que em 2020, 80% do orçamento dos países com saúde sejam destinadas para os sequelados de neurotraumas.

A prevenção então significa economia?
Sim. É insanidade agredir ou destruir o corpo físico e depois pagar ao médico para consertar. Quando eu previno, gero economia para mim e a sociedade. Isso sem falar na redução do sofrimento físico, mental e emocional. Na maioria das famílias onde acontece um acidente de trânsito, por exemplo, o atingido não é somente a vítima do acidente. As despesas com tratamentos médicos e cirurgias são muito altas e resultam no empobrecimento da família da vitima, empobrecimento esse que pode acabar em miséria, gerando graves problemas psicológicos e sociais. A prevenção é, então, uma atitude inteligente.

De que forma a Pense Bem pode atuar para mudar esse cenário?
Através de ações concretas em todos os segmentos da sociedade, utilizando seus associados, voluntários, meios de comunicação, para mudar a forma de pensar, a atitude de cada um frente à vida. Mudando o indivíduo para melhor, mudará o meio. Já temos alguns planos.

Fale sobre esses planos.
Umas das primeiras idéias passa pela educação da população a fim de evitar acidentes de trânsito e envolve a parceria com neurocirurgiões em suas comunidades de atuação. Iremos focar em cidade de até 200.000 habitantes. Vamos produzir um vídeo mostrando como são causados os acidentes de trânsito e o que acontece com as vítimas. Usaremos exemplos reais, de celebridades que sofreram acidentes, para que vejam que todos são vulneráveis. A missão do neurocirurgião será mostrar o vídeo nas escolas e associações de moradores de sua comunidade. O cirurgião irá interagir com os participantes nesse processo, orientando e esclarecendo dúvidas, auxiliado por um motorista profissional, que falará sobre direção preventiva. Iniciativas como essa são importantes para divulgar a abrangência da neurocirurgia e o papel do neurocirurgião na prevenção.

Estão previstas ações de maior amplitude?
Sim, temos um projeto de campanha de penetração nacional, focado em frases educativas sobre a atitude preventiva no trânsito, para serem colocadas em para choques de caminhões, adesivos para carros e motos, estações de pedágio, placas nas estradas, etc. Podemos trabalhar com enfoques diversos, utilizando as datas do calendário como referência. Em uma semana, uma frase
dessas pode percorrer o Brasil inteiro. É fundamental abrir espaço na mídia com apoio de veículos de comunicação como TV, jornais e revistas. Um parceiro viável nesse projeto seriam as seguradoras, já que são elas as maiores interessados em reduzir os prêmios pagos por acidentes de trânsito.

Entidades públicas e privadas cada vez investem mais em projetos de cunho cultural e social. Como o senhor vê a participação da SBN nesse processo?
Eu diria que é uma questão de sobrevivência. Estamos ainda muito reclusos em nosso casulo. Não podemos nos isolar do mundo porque senão acabaremos naturalmente excluídos dele. Precisamos que a sociedade saiba para que viemos, que não estamos apenas usufruindo dela, mas que também temos muito a oferecer com nossa vivência e experiência. Hoje as empresas reconhecem que quanto mais investirem no bem estar de seus funcionários, mais disposição para o trabalho eles terão e mais irão produzir. Aquela idéia de só "tirar" do empregado gera revolta, e revolta gera frustração e frustração gera violência e violência gera doença. O processo culmina na doença e no funcionário afastado do trabalho. No final, quem sucumbe de verdade é a empresa. Quanto mais saudável e feliz estiver o funcionário - mens sana em corpore sano - mais produtivo ele será. Da mesma forma, quanto mais fizermos em prol da sociedade civil, como entidade, mais a comunidade nos verá com melhores olhos, freqüentará nossos consultórios e hospitais, mais parceiras nossas elas serão.

Quais serão as linhas de atuação da Fundação?
A Fundação pretende atuar em 4 frentes: prevenção do neurotrauma, prevenção dos acidentes de trânsito, prevenção de derrame cerebral, prevenção de mal formações na criança, e preservação do caminhar do idoso. Mais informações sobre essas linhas de atuação estão disponíveis no site da SBN, onde aparecem as propostas de cada um desses segmentos.

Qual o grande desafio da Fundação Pense Bem hoje?
A Fundação está criada, mas precisamos implementá-la. Para que isso aconteça, necessitamos do apoio dos neurocirurgiões brasileiros, através de doações. Precisamos de recursos para colocar nossos projetos em prática.

Os recursos provenientes de doações são suficientes?
Num primeiro momento, sim, mas há possibilidades de outras fontes geradoras de recursos. Outras fundações afins já vem trilhando esse caminho. Um exemplo é a FUNCOR, fundação que pertence à Sociedade Brasileira de Cardiologia. Ela atua no processo de certificação de determinados produtos alimentícios. Aqueles que não geram problemas coronários ou de hipertensão recebem um selo de qualidade da FUNCOR e esse selo aparece em todas as embalagens, identificando o produto. Para obter o selo de qualidade FUNCOR, o fabricante do produto faz uma contribuição mensal à FUNCOR.

Que produtos a Fundação Pense Bem poderia certificar?
Capacetes para motociclistas, cintos de segurança, próteses ou mesmo os produtos utilizados em neurocirurgias. Esses produtos receberiam um selo de qualidade da SBN, orientando os consumidores no momento da compra. Uma iniciativa como essa, além de contribuir para o bem estar da população em geral, aumentaria a visibilidade da SBN junto ao público em geral.

Que mensagem o senhor deixa para os neurocirurgiões brasileiros sobre a Fundação Pense Bem?
Estamos num momento da maior importância na história da civilização. A violência se manifesta em todos os segmentos da sociedade, matando e mutilando. Podemos minimizar ou mesmo eliminar esse processo, trabalhando individual ou coletivamente no nosso meio social. Se cada um de nós tiver o entendimento do seu grau de importância na comunidade em que vive e utilizar essa importância para educar, dar exemplo, orientar, estará trabalhando na mudança para um mundo melhor e mais saudável. A Fundação Pense Bem pode ser um agente de mudanças. Conclamo os neurocirurgiões membros da SBN a auxiliar na divulgação dos objetivos da Fundação e a participar com sua doação para que a Fundação se transforme logo numa realidade. Consultem em breve o site da SBN para saber como fazer sua contribuição.

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