Trombose Mesentérica por deficiência de proteína S: Relato de Caso
André Daniel Tavares*,
Jaqueline Borém P. Figueiredo*, Marcelo Augusto A. Prado Bergamo*, Túlio
Rebello Coutiunho*
Raissa Borém P. Figueiredo**, Lucas B. Murad**, Silvia Maris de Souza
e Souza**
Wilson Koitti Tomita***
• Acadêmicos do curso de graduação da FCM –
UNIFENAS
** Residentes De Clínca Médica da FCM - Unifenas
*** Professor da FCM e Supervisor do Serviço de Clínica Médica
do Alzira Velano – Alfenas/MG
INTRODUÇÃO
Trombofilia é uma tendência geneticamente determinada a tromboembolismo venoso e/ou arterial. Apresenta prevalência 0,03 a 0,13% na população geral. As alterações congêntas incluem a deficiência dos inibidores fisiológicos da coagulação (antitrombina, proteína C e proteína S), resistência à proteína C ativada (presença de fator V anormal – fator V de Leiden), mutação do gene da protrombina. A proteína C quando ligada ao seu receptor endotelial EPCR é ativada após a associação da trombina ao seu receptor trombomodulina (TM). A proteína S potencializa o processo inibitório da proteína C, atuando com um co-fator não enzimático, promove a inativação do fator V plasmático e do fator VIII. É um anticoagulante natural, sintetizado nos hepatócitos e megacariócitos, dependentes da vitamina K. As suas deficiências levam a coagulação sanguínea anormal, levando a quadros de tromboembolismo em condições não usuais.
OBJETIVOS
Relato de um caso de paciente apresentando trombose mesentérica por
deficiência de proteína S.
RELATO DE CASO
R.A.S., 37 anos, melanoderma, natural de Porto Ferreira (SP), procedente de
Machado (MG), deu entrada no C.T.I. do Alzira Velano, transferida da Santa Casa de Machado,
no 3º dia de pós-operatório de uma laparotomia exploradora,
onde foi diagnosticada trombose mesentérica superior, sendo realizado
enterectomia de segmento de intestino delgado de 1 metro e anastomose término-terminal
em 2 planos jejuno – ileal. Nesta situação apresentava-se
em sepse, necessitando transferência para nosso serviço.
Ao exame encontrava-se em MEG, prostrada, hipocorada, desidratada ++/4+, taquicárdica,
taquipneica, PA: 100x80mmHg, FC: 140 bpm, Tax: 38,9ºC. Ausculta cardíaca
sem alterações; ausculta respiratória com murmúrio
vesicular fisiológico, com expansibilidade diminuída; abdome distendido,
timpânico à percussão, doloroso à palpação
superficial e profunda, cicatriz mediana xifo-púbica em bom aspecto.
História de HAS em uso de Captopril, 2 episódios de pancreatite
aguda prévios, nega DM anteriormente. Pai e irmão (aos 18 anos)
falecidos de IAM.
Exames complementares: Glicemia: 174mg/dL. Hemograma: Hm: 3,71 milhões/mm3;
Hb: 11,2 g/100mL; Ht: 32,8%; Plaquetas: 291.000. TGO: 12,6 U/mL; TGP: 19,8 U/mL;
Uréia: 17,2 mg%; Creatinina: 0,7 mg%; Amilase: 134 U/mL; Ca+: 1,34 mg%;
DHL: 413 U/mL; Glicemia: 159 mg/dL; K+: 3,9 mEq/L; Na+: 139 mEq/L. Iniciado
antibioticoterapia com Cefalotina associado a Metronidazol e Amicacina. O Rx
de abdome mostrou calcificações em topografia de pâncreas
e distenção gasosa de alças. O US abdominal apresentou
mínima quantidade de líquido em fossa ilíaca direita, moderada
distensão líquida e gasosa, leve hidronefrose bilateral, pâncreas
e aorta não visualizados.
Solicitado: Proteína C: 102% (80-120%), Proteína S: 24% (65-140%);
Fator V de Leiden: negativo (não possui mutação); Antitrombina
III: 108% (80-120%); Anticorpo anticardiolipina: baixa reatividade.
DISCUSSÃO
As deficiências de protéina S correspondem a apenas 5-15% dos
casos de trombose em diferentes populações estudadas. Estas deficiências
isoladamente são causas bem estabelecidas, porém relativamente
raras, de trombofilias. O quadro mais freqüente é o de TVP com ou
sem TEP. O quadro apresentado pela paciente é de apresentação
rara, dando-se mais importância ao seu relato.
Deve ser suspeitado e definido nas seguintes situações em que
a ocorrência de tramboembolismo é rara na população
geral: 1) primeiro episódio antes dos 45 anos; 2) tromboembolismo espontâneo;
3) caráter recorrente de tromboembolismo; 4) trombose em localização
não usual (seio sagital, vasos mesentéricos, veia porta ou esplênica);
5) ocorrência em membros da família. O diagnóstico é
estabelecido pela dosagem da Proteína S no plasma, a qual se apresenta
abaixo dos valores da normalidade.
O tratamento do episódio agudo de pacientes com tromboses hereditárias
não difere do tratamento recomendado para os quadros de trombose em pacientes
sem anormalidades trombofílicas hereditárias. Após o diagnóstico
deve-se ser instituída terapia com heparina e mantida por 2 a 5 dias.
O anticoagulante oral (antivitamínico-K) deve ser iniciado nas primeiras
24 horas, de modo a atingir um valor de INR na faixa de 2,0 a 3,0. A duração
ideal da anticoagulação oral, em pacientes com trombofilia hereditária,
não é conhecida e os dados apresentados derivam principalmente
de dados obtidos com pacientes sem trombofilia hereditária. A anticoagulação
pode se prolongar além de 6 meses ou ser perene, dependendo da gravidade
da trombose, fatores de risco envolvidos, adesão do paciente ao tratamento
e características individuais, sendo particular em cada caso. Indivíduos
assintomáticos portadores de trombofilias, identificados em estudos familiares,
devem receber profilaxia primária com heparina não fracionada
ou heparina de baixo peso molecular em situações de risco: imobilizações,
cirurgias em geral, viagens prolongadas, gravidez e puerpério. O uso
de contraceptivos orais deve ser evitado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1)LOPES, A.C., Tratado de Clínica Médica. 1ª ed. Ed. Roca.
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Koogan. Rio de Janeiro 1997.
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2002.
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2005. 22ª ed. Ed Artes Médicas. São Paulo, 2005.
6) CECIL. Tratado de Medicina Interna. 20ª ed. Ed. Guanabara Koogan. Rio
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